Uma crítica que li me deixou sem a menor vontade de ver Hugo (A invenção de Hugo Cabret): um filme em 3D sobre um garoto que, entre as duas guerras mundiais, tinha um robô que ganhou do pai. Robô? Então tá. Só depois de ler depoimentos de fontes confiáveis resolvi ir ao cinema e conferir que Hugo não tem robô e que o 3D do filme não é aquela bobagem que infesta os cinemas: coisas jogadas sobre o espectador e efeitos similares.
Pelo contrário, Martin Scorsese dá uma aula de direção ao usar o 3D de um forma original: a sensação de proximidade de alguns personagens ou de profundidade de alguns cenários não aparece para nos demonstrar como a tecnologia de 3D é “surpreendente” [*], e sim para realçar momentos de maior emoção ou para deixar que os elementos de fundo não fiquem nos distraindo à toa. Ao contrário dos filmes de ação em que o 3D ressalta elementos que nos distraem da trama, Scorsese usa com maestria a terceira dimensão para destacar aquilo que mais lhe interessa ao contar a sua estória.
O filme é conduzido por dois personagens: Hugo Cabret, garoto que vive escondido na estação de Montparnasse e que acaba sendo o elemento chave na viagem ao universo de sonhos evocados pelos livros e pelo cinema, e pelo seu contraponto, o inspetor da estação de trens genialmente composto por Sacha Baron Cohen – uma das muitas escolhas felizes do elenco. Hugo começa o filme ao lado de seu pai (Jude Law) e logo se envolve com Isabelle, a garota órfã que adora palavras complicadas – mais uma interpretação sensacional de Chloë Grace Moretz [**]. Pelas mãos dela e pela parca herança do pai, Hugo redescobre a magia dos livros pelo livreiro M. Labisse (Christopher Lee) e nos conduz a uma viagem emocionante pela origem do cinema e pela sua capacidade de inventar os sonhos. Scorsese ousou ao escalar Ben Kingsley para um papel chave no filme, uma aposta que deu certo. O automaton sem nome que Hugo herdou do pai e cujo rosto inexpressivo ocupa a tela mais de uma vez funciona como centro e leitmotiv: o que ele faz? por que está ali? qual o segredo do automaton e de sua chave?
Difícil falar do filme sem estragar algumas boas surpresas. Prefiro simplesmente deixar o registro de uma viagem inesquecível ao mundo do cinema em suas origens, uma forte recomendação do filme [***] e a convicção de que, dos candidatos a este Oscar, Scorsese mostrou ser muito mais diretor.
[*] pra quem se surpreende com truques básicos e cinquentenários, claro. Do tipo que nos faz ouvir do casal ao lado: “viu como a espada parecia sair da tela?” “vi, que susto, né?”.
[**] se você não a viu em Kick-ass, ainda está em tempo
[***] o filme é tão bom que consegui superar minha revolta ao ouvir os parisienses falando em inglês britânico
Minha torcida até o momento é para o Woody Allen. Mas ainda não fui ver esse.
Agora, com esse seu texto, além de me motivar de vez em ver em 3D, me deixou também uma vontade de assistir depois de domingo. Vai que eu mude a minha torcida para o Oscar de Direção.
Mas já tinham me falado para ver ‘Hugo’ em 3D. Como também ‘Pina’; esse por uma amiga que mora na França.
E Parabéns, pelo texto!
Que bom que estar de volta ao blog.
Quer compartilhar mais esse? Será o sexto.
É o filme mais-que-perfeito que vi nos últimos cem anos. Parece que todos os deuses da sétima arte resolveram colaborar com o mestre Scorsese a superar seu próprio recorde de genialidade. Uau! Nessas horas até podemos nos dar ao luxo de esquecer por alguns minutos da eterna pergunta “Quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha?” Ou quem foi que inventou o cinema: Thomas Edison ou irmãos Lumière? Em Hugo, os dois eis que contracenam.
O importante é lembrar que também somos feitos da mesma matéria do cinema e a história resume-se na re-união de todos os elementos desde sua criação.
“A chegada do trem na estação” pode-se dizer que esse veículo sai dos trilhos pegando de surpresa os passageiros na poltrona: um 3D para ninguém reclamar de susto. E um presente com um pouco dos 80 filmes de Georges Méliès foi “A viagem à Lua”,… e as mais acertadas escolhas para nos brindar são as presenças de Christopher Lee, Ben Kingsley, Chloë Grace Moretz, Sacha Baron Cohen, grande elenco, grandes nomes, filme fantástico.
Bravo, bravíssimo!
*
Cobertura Oscar 2012: http://cinemaeaminhapraia.com.br/2012/02/26/e-o-oscar-2012-vai-para/
Onde eu fiz um texto para o que teria de diferencial nesse Oscar 2012. E depois, nos comentários, deixei as minhas impressões das premiações.
Passe lá e deixe também as suas impressões 🙂
cade os updates? Cansou dos filmes ou de escrever sobre os filmes? bem, fica a dica do dia: http://www.imdb.com/title/tt0978762/
Mary and Max.